Dengue em alta: como o vírus pode comprometer a saúde neurológica
As doenças provocadas por vírus transmitidos pelo mosquito Aedes aegypti estão de volta. Não que tenham ido totalmente embora em algum momento, mas os casos de dengue, zika e chikungunya registraram um aumento significativo em todo país neste ano.
O Brasil registrou neste início de 2024 mais de 260 mil casos prováveis de dengue. Já são 29 mortes e 173 estão em investigação. Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal lideram o ranking de número de casos. No DF, por exemplo, são 32 mil casos, a maior incidência da doença no país, com 1.100 para cada cem mil habitantes. As informações são do Ministério da Saúde.
Essas doenças atacam o sistema imunológico e podem levar à morte, mas também estão ligadas a sequelas neurológicas que podem ser bastante relevantes. É sobre isso que falaremos neste artigo.
O que são arboviroses?
Antes de seguirmos, vamos falar sobre as arboviroses. Tratam-se de doenças causadas por vírus transmitidos por artrópodes, como mosquitos, carrapatos e flebotomíneos (mosquitos-palha). O termo “arbovirose” é derivado da abreviação em inglês “arbovirus”, que significa “vírus transmitidos por artrópodes” (Arthropod-borne viruses).
Essas doenças podem ser encontradas em várias partes do mundo e afetam tanto humanos quanto animais, causando uma ampla variedade de sintomas que podem variar de leves a graves, incluindo febre, dor de cabeça, erupção cutânea, dor muscular, dor nas articulações, náusea, vômito e até mesmo morte em casos graves.
Exemplos de arboviroses, além da dengue, zika e chikungunya, incluem a febre amarela, encefalite japonesa e encefalite do Nilo Ocidental.
Manifestações neurológicas em comum
As manifestações neurológicas da dengue, zika e chikungunya podem ocorrer por ação direta do vírus, mecanismos autoimunes, hemorragia e distúrbios metabólicos. O quadro neurológico pode surgir durante a infecção aguda ou como manifestação pós-infecciosa. As síndromes clínicas principais são:
- Encefalite: inflamação do cérebro que pode causar febre, dor de cabeça, confusão, convulsões, paralisia e até mesmo coma;
- Síndrome de Guillain-Barré (SGB): uma condição neurológica rara em que o sistema imunológico ataca os nervos periféricos, causando fraqueza muscular, dormência, formigamento e em casos graves, paralisia;
- Neuropatias periféricas: danos aos nervos periféricos que podem causar dor, dormência, formigamento e fraqueza muscular;
- Mielite transversa: inflamação da medula espinhal que pode causar fraqueza muscular, dormência e formigamento nas pernas, problemas de controle da bexiga e do intestino, e até mesmo paralisia.
Zika e microcefalia
Nas epidemias de zika de 2015 e 2016 no Brasil e em outros países, houve um aumento na incidência de SGB em pacientes infectados. Além disso, houve também um aumento no número de casos de microcefalia e outras anomalias cerebrais congênitas, o que sugeriu uma possível relação entre a infecção pelo vírus zika e as condições neurológicas.
Devido a esses eventos, em fevereiro de 2016 a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou uma emergência de saúde pública internacional em relação à infecção pelo vírus zika, tornando sua notificação obrigatória.
Hoje, essa relação já está bem estabelecida, embora o mecanismo de ação do vírus sobre o cérebro de fetos ainda não esteja totalmente esclarecido. O vírus já foi encontrado no tecido nervoso de um recém-nascido, e o que se sabe é que o zika tem uma tendência natural a atacar células nervosas. Se o cérebro estiver em desenvolvimento, há risco de má-formação.
Casos raros
Em casos mais raros, a dengue (especialmente os sorotipos 2 e 3) pode provocar ainda a encefalopatia, condição que causa confusão, alterações mentais, convulsões ou até mesmo o coma.
O zika vírus também foi associado a casos de síndrome de Sjogren-Larsson, uma doença rara, hereditária e autossômica recessiva que afeta o metabolismo dos ácidos graxos. É causada por uma mutação no gene ALDH3A2, que fornece instruções para a produção de uma enzima chamada aldeído desidrogenase de cadeia longa.
Como resultado, a enzima não funciona adequadamente, levando à acumulação de ácidos graxos de cadeia longa no corpo.
A doença é caracterizada por uma tríade clássica de sintomas: ictiose (pele seca e escamosa), deficiência intelectual e espasticidade (rigidez muscular). Outros sinais e sintomas podem incluir convulsões, problemas visuais, como estrabismo, e alterações nos movimentos dos olhos.
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É possível confirmar se a dengue, zika ou chikungunya são os causadores de doenças neurológicas por meio da presença do RNA viral ou antígenos virais no soro e/ou líquido cefalorraquidiano (LCR), sendo a presença do material genético viral no LCR considerada a mais forte evidência de causalidade.
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