O Que é Desmielinização E Que Doenças Estão Associadas Ao Processo?

O que é desmielinização e que doenças estão associadas ao processo?

A desmielinização é um processo patológico caracterizado pela perda ou destruição da mielina, uma substância lipídica que envolve as fibras nervosas no sistema nervoso central e periférico. A mielina é importante para a condução rápida e eficiente dos impulsos nervosos. Quando ela é danificada, a transmissão desses impulsos é interrompida, resultando em uma variedade de sintomas neurológicos.

A desmielinização pode ser causada por fatores autoimunes, infecciosos, genéticos ou tóxicos, e está associada a diversas doenças. Entre as mais conhecidas estão a esclerose múltipla, a neuropatia óptica, a neuromielite óptica, a leucodistrofia metacromática e a síndrome de Guillain-Barré.

Neste texto, vamos nos debruçar na compreensão do processo de desmielinização e suas doenças associadas, que é essencial para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado de diversas condições.

Entendendo a estrutura do neurônio

Os neurônios são as células fundamentais do sistema nervoso, responsáveis por transmitir informações por sinais elétricos e químicos. A estrutura de um neurônio é composta por várias partes, cada uma com uma função específica:

  • Corpo Celular (Soma): É a parte central do neurônio que contém o núcleo e a maioria das organelas celulares. Ele é responsável pela manutenção e metabolismo da célula.
  • Dendritos: São extensões ramificadas do corpo celular que recebem sinais de outros neurônios e os transmitem para o corpo celular.
  • Axônio: É uma extensão longa e fina que se projeta do corpo celular e transmite sinais elétricos do corpo celular para outras células, incluindo outros neurônios, músculos ou glândulas.
  • Terminal axonal (ou terminais sinápticos): São as extremidades do axônio, onde os sinais elétricos são convertidos em sinais químicos para comunicação com outras células.
  • Mielina: É uma camada isolante composta por substâncias lipídicas e proteínas que envolve o axônio. A mielina é formada por células especializadas, chamadas células de Schwann no sistema nervoso periférico e oligodendrócitos no sistema nervoso central. Sua função principal é aumentar a velocidade de condução dos impulsos nervosos ao longo do axônio através do processo conhecido como condução saltatória. Em vez de o impulso nervoso percorrer toda a extensão do axônio, ele “salta” entre os nodos de Ranvier, que são pequenos intervalos na bainha de mielina.
  • Nodos de Ranvier: São espaços sem mielina ao longo do axônio onde a condução saltatória ocorre, permitindo que o impulso nervoso se mova rapidamente de um nodo ao outro.

Processos que levam à degradação da mielina

A degradação da mielina, ou desmielinização, pode ser provocada por diversos processos patológicos. Entre os principais fatores que levam à desmielinização estão:

  • Doenças autoimunes: O sistema imunológico ataca erroneamente a mielina, levando à sua degradação. A esclerose múltipla (EM) é o exemplo mais conhecido, onde o sistema imunológico ataca a mielina no sistema nervoso central.
  • Infecções: Certos agentes infecciosos podem causar danos diretos ou indiretos à mielina. Vírus como o vírus JC (causador da leucoencefalopatia multifocal progressiva) e bactérias podem desencadear respostas imunológicas que resultam na desmielinização.
  • Distúrbios genéticos: Algumas condições hereditárias afetam a produção ou manutenção da mielina. Exemplos incluem a leucodistrofia metacromática e a adrenoleucodistrofia, onde mutações genéticas levam à degradação progressiva da mielina.
  • Processos inflamatórios: Inflamações no sistema nervoso podem danificar a mielina. A neuromielite óptica, por exemplo, é uma condição inflamatória onde os ataques são direcionados contra a mielina do nervo óptico e da medula espinhal.
  • Trauma e lesões: Lesões físicas no sistema nervoso central ou periférico podem danificar diretamente a mielina. Traumas espinhais ou cerebrais podem resultar na perda da mielina nas áreas afetadas.
  • Toxinas e drogas: Exposição a certas substâncias tóxicas ou efeitos colaterais de alguns medicamentos podem levar à desmielinização. Substâncias como solventes orgânicos, metais pesados e algumas drogas quimioterápicas são exemplos.
  • Problemas metabólicos e nutricionais: Deficiências nutricionais, especialmente de vitaminas como a B12, podem causar desmielinização. A deficiência de vitamina B12 pode levar à desmielinização no sistema nervoso periférico e central.
  • Envelhecimento: O envelhecimento natural pode levar a mudanças degenerativas na mielina, contribuindo para doenças neurodegenerativas onde a mielina é progressivamente perdida.

Como identificar a desmielinização?

A identificação da desmielinização envolve diversos exames que ajudam a avaliar o dano à mielina e a determinar a causa subjacente. Entre os principais exames utilizados estão a ressonância magnética e exame de potenciais evocados que mede a resposta elétrica do cérebro a estímulos visuais, auditivos ou somatossensoriais.

A análise do Líquor (líquido cefalorraquidiano ou LCR) também pode ser uma importante aliada na identificação do processo de desmielinização. A punção lombar é utilizada para coletar o líquor, que é então analisado para detectar a presença de marcadores de infecção, inflamação e autoimunidade. Os exames do líquor podem incluir:

  • Bandas oligoclonais e pesquisa das cadeias leves livres kappa: A presença de bandas oligoclonais exclusivas no líquor, assim como a imunoliberacao intratecal de cadeia leves livres kappa, são indicativos de inflamação crônica no sistema nervoso central, frequentemente observadas em pacientes com esclerose múltipla.
  • Índice de IgG: A síntese intratecal de imunoglobulina G (IgG) também pode ser um indicativo de doenças desmielinizantes.

Biomarcadores específicos podem ser medidos no sangue ou no líquor para ajudar a identificar processos desmielinizantes:

  • Neurofilamentos (NFL e NfH): Fragmentos de neurofilamentos, que são componentes estruturais dos axônios, podem ser encontrados em níveis elevados no sangue e no líquor em condições de desmielinização e danos axonais.
  • Proteína Básica da Mielina (MBP): A presença aumentada de MBP no líquor pode indicar dano à mielina.
  • Anti-Aquaporina-4 (AQP4): Anticorpos contra a AQP4 são marcadores específicos da neuromielite óptica.
  • Anti-MOG: Anticorpos contra MOG nas síndromes autoimunes ligadas ao anticorpo MOG (MOGAD).

A combinação desses exames permite uma avaliação abrangente da resposta imune no paciente, ajudando a confirmar o diagnóstico, determinar a causa subjacente e monitorar a progressão da doença.

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