Doença Priônica: Tipos, Sintomas, Diagnóstico E Tratamentos

Doença priônica: tipos, sintomas, diagnóstico e tratamentos

As doenças priônicas representam um grupo raro de condições neurodegenerativas, causadas pela presença anômala de uma proteína conhecida como príon. Essas doenças podem afetar tanto seres humanos quanto animais, manifestando-se de formas variadas.

No ser humano, as doenças priônicas mais conhecidas incluem a Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD), o Kuru, a Insônia Familiar Fatal (FFI) e a Síndrome de Gerstmann-Sträussler-Scheinker (GSS). Estas enfermidades se caracterizam por uma progressão rápida e inexorável de sintomas neurológicos.

Neste texto, exploraremos detalhadamente os diferentes tipos de doenças priônicas, seus sintomas característicos, os métodos de diagnóstico atualmente disponíveis e as abordagens terapêuticas em desenvolvimento.

Anormalidade do príon (PrP)

O príon (PrP) é uma proteína celular normalmente encontrada no organismo humano e em outros mamíferos. Em sua forma saudável, chamada PrP^C (proteína priônica celular), ela desempenha funções ainda não completamente compreendidas, mas acredita-se que esteja envolvida na proteção dos neurônios e na comunicação celular.

No entanto, quando a PrP^C sofre uma alteração conformacional e se dobra de maneira anômala, ela se transforma na PrP^Sc (proteína priônica scrapie), que é a forma patogênica e infecciosa da proteína. Essa forma anômala tem uma estrutura tridimensional diferente e, crucialmente, é capaz de induzir a transformação de proteínas PrP^C normais em mais proteínas PrP^Sc. Esse processo de conversão em cadeia é o que caracteriza a natureza infecciosa dos príons.

As proteínas PrP^Sc se acumulam no cérebro, formando agregados que interferem no funcionamento normal dos neurônios. Essa acumulação leva à formação de placas e à vacuolização do tecido cerebral, criando uma aparência esponjosa no cérebro afetado – daí o nome “encefalopatia espongiforme”, por exemplo. Essas alterações estruturais e funcionais no cérebro resultam em degeneração neuronal, perda de sinapses e morte de neurônios.

Doenças priônicas: sintomas

Os sintomas das doenças priônicas podem variar dependendo do tipo específico da doença, mas, de maneira geral, incluem uma combinação de sintomas neurológicos e psiquiátricos:

  • Demência progressiva: Perda rápida e progressiva das funções cognitivas, incluindo memória, raciocínio, e capacidade de tomar decisões.
  • Ataxia: Falta de coordenação motora, dificultando a realização de tarefas cotidianas.
  • Mioclonia: Espasmos musculares involuntários, geralmente breves e repentinos.
  • Rigidez muscular e tremores.
  • Mudanças de personalidade: Comportamento incomum ou fora do caráter habitual.
  • Depressão, ansiedade e irritabilidade; alucinações e delírios.
  • Visão borrada ou dupla; perda de visão em alguns casos avançados.
  • Insônia severa, especialmente na Insônia Familiar Fatal (FFI), onde a insônia progressiva é um sintoma distintivo.
  • Dificuldade na fala e na deglutição (disartria e disfagia); perda de reflexos.
    Convulsões em casos mais avançados.

Os sintomas específicos podem variar conforme o tipo de doença priônica:

  • Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD): Apresenta demência rapidamente progressiva, mioclonia, e ataxia.
  • Kuru: Associado ao consumo de tecido cerebral humano infectado, caracteriza-se por tremores, ataxia, e alterações emocionais.
  • Insônia Familiar Fatal (FFI): Caracteriza-se por insônia progressiva, disfunção autonômica (como sudorese excessiva e febre), e demência.
  • Síndrome de Gerstmann-Sträussler-Scheinker (GSS): Inclui ataxia, disartria, e uma demência mais lentamente progressiva.

Os sintomas geralmente progridem rapidamente, com deterioração significativa das capacidades mentais e físicas em questão de meses a poucos anos, dependendo do tipo específico de doença priônica.

Doenças priônicas: diagnóstico

O diagnóstico das doenças priônicas é um desafio devido à natureza rara e complexa dessas condições. Contudo, uma combinação de métodos clínicos, neuroimagens, testes laboratoriais e, em alguns casos, exames genéticos pode ajudar a confirmar o diagnóstico. Abaixo estão os principais métodos utilizados:

Avaliação clínica

Um neurologista coleta a história médica completa do paciente, incluindo os sintomas e sua progressão, além de realizar um exame neurológico detalhado para avaliar a função cognitiva, a coordenação motora, os reflexos e outros aspectos neurológicos. A presença de sintomas como demência rapidamente progressiva, ataxia (falta de coordenação), mioclonia (espasmos musculares involuntários) e, em alguns casos, insônia grave pode levantar suspeitas de uma doença priônica.

Exames laboratoriais

  • Teste de Proteína 14-3-3: A detecção da proteína 14-3-3 no líquido cefalorraquidiano (LCR) pode ser um indicador de dano neuronal agudo e é frequentemente usada como um teste de apoio ao diagnóstico de doenças priônicas, embora não seja específico.
  • RT-QuIC (Real-Time Quaking-Induced Conversion): Este teste altamente sensível e específico detecta a presença de príons no LCR ou em outros tecidos, identificando a conversão anômala de proteínas priônicas.

Eletroencefalograma (EEG)

Um EEG pode mostrar padrões específicos, como complexos periódicos trifásicos, que são sugestivos de doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD).

Testes genéticos

Em casos familiares ou quando há suspeita de uma forma hereditária de doença priônica, testes genéticos podem identificar mutações no gene PRNP, que codifica a proteína príon.

Em suma, o diagnóstico de doenças priônicas requer uma abordagem multidisciplinar e a colaboração entre neurologistas, radiologistas, patologistas e geneticistas para garantir uma avaliação precisa e oportuna. A confirmação geralmente se baseia na combinação de achados clínicos e laboratoriais, incluindo a ressonância magnética de crânio, juntamente com exclusão de outras possíveis causas de sintomas neurológicos semelhantes.

Doenças priônicas: tratamento

As doenças priônicas, infelizmente, não têm cura conhecida até o momento. Os tratamentos disponíveis são, em grande parte, paliativos, focando em aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Pesquisas estão em andamento para encontrar terapias eficazes, mas atualmente, o manejo das doenças priônicas envolve os seguintes métodos:

Cuidados paliativos

Medicamentos analgésicos e sedativos são utilizados para aliviar a dor e proporcionar conforto. Antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos podem ser prescritos para lidar com sintomas como depressão, ansiedade e alucinações. Fisioterapia e terapia ocupacional podem ajudar a manter a mobilidade e a função motora pelo maior tempo possível, além de auxiliar na realização das atividades diárias.

Apoio nutricional e hidratação

Suporte nutricional, incluindo alimentação por sonda em estágios avançados, pode ser necessário para garantir que o paciente receba nutrientes adequados. Manter a hidratação é crucial e, em casos avançados, pode ser necessário recorrer a fluidos intravenosos.

Apoio psicossocial

Psicólogos e terapeutas podem oferecer apoio emocional tanto para os pacientes quanto para suas famílias, ajudando-os a lidar com o estresse e a carga emocional da doença. A participação em grupos de apoio para compartilhar experiências e receber suporte de outras pessoas que enfrentam situações semelhantes também é aconselhada.

Pesquisa clínica

Pacientes podem optar por participar de ensaios clínicos que investigam novas terapias e tratamentos experimentais. Embora esses tratamentos não garantam cura, eles contribuem para o avanço do conhecimento científico e podem oferecer benefícios potenciais.

Terapias experimentais e futuras

  • Inibidores de conversão de príon: Pesquisas estão explorando compostos que possam impedir a conversão da proteína príon normal (PrP^C) em sua forma patológica (PrP^Sc).
  • Vacinas e imunoterapias: Tentativas de desenvolver vacinas ou imunoterapias que possam neutralizar as proteínas priônicas anômalas estão em andamento.
  • Anticorpos monoclonais: Estudos estão investigando o uso de anticorpos monoclonais para identificar e neutralizar as proteínas priônicas anômalas.

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