Meningite no alvo: saiba como lidar com a doença
A meningite é uma inflamação das membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, conhecidas como meninges. Trata-se de uma doença grave, que pode levar a complicações sérias e até à morte, tornando seu diagnóstico precoce e tratamento adequado fundamentais.
No Brasil, de 2010 a 2023, foram registrados mais de 226 mil casos de meningites, uma média de 44 casos por dia. Diante da gravidade do quadro, o Ministério da Saúde lançou em outubro as diretrizes do “Plano Nacional para o Enfrentamento às Meningites até 2030”. O Brasil caminha para ser o primeiro país da região das Américas a estruturar um plano estratégico com tal finalidade.
O documento afirma o compromisso brasileiro com o Roteiro Global da Organização Mundial da Saúde (OMS), firmado em 2021, para derrotar as epidemias que ocorrem no mundo e reduzir em 70% as mortes provocadas por elas até 2030.
Neste texto, vamos entender quais são os tipos de meningite, suas causas, sintomas mais comuns e métodos de diagnóstico utilizados, visando esclarecer os aspectos essenciais dessa doença e destacar a importância da prevenção e do manejo clínico eficiente.
Meningite: classificação e sintomas
A meningite pode ser classificada em diferentes tipos, de acordo com sua causa. Os principais tipos de meningite são a bacteriana, a viral, a fúngica e a não infecciosa. Cada um deles apresenta características distintas em relação ao agente causador, gravidade, tratamento e prognóstico.
Meningite bacteriana
A meningite bacteriana é a forma mais grave da doença e exige tratamento imediato, geralmente com antibióticos intravenosos. As bactérias mais comuns que causam meningite bacteriana incluem Neisseria meningitidis (meningococo), Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e Haemophilus influenzae tipo b. Essas bactérias podem chegar às meninges a partir de infecções nas vias respiratórias superiores, como sinusites ou otites, ou por meio da corrente sanguínea.
Sintomas típicos incluem febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez no pescoço, náuseas, vômitos e confusão mental. A meningite bacteriana pode evoluir rapidamente e levar a complicações graves, como danos cerebrais, surdez e até a morte, se não tratada rapidamente.
Meningite viral
A meningite viral é a forma mais comum e menos grave de meningite. É causada por vários tipos de vírus, sendo os mais comuns os enterovírus, o vírus da caxumba, o herpes simples tipo 2 e o HIV. Embora a meningite viral possa ser desconfortável, na maioria dos casos ela é autolimitada e os sintomas desaparecem com o tempo, sem a necessidade de tratamento específico, além de cuidados sintomáticos.
Os sintomas são semelhantes aos da meningite bacteriana, mas geralmente são mais leves e incluem febre, dor de cabeça, rigidez no pescoço e mal-estar geral. O tratamento se concentra no alívio dos sintomas, como a administração de analgésicos, hidratação e repouso, mas em alguns casos o uso de antivirais pode ser necessário (meningites herpéticas).
Meningite fúngica
A meningite fúngica é rara, mas pode ocorrer em pessoas com sistemas imunológicos enfraquecidos, como indivíduos com HIV/AIDS, câncer ou que utilizam medicamentos imunossupressores. Fungos como Cryptococcus, Cândida e Histoplasma são os principais responsáveis por essa forma de meningite.
Os sintomas são similares aos da meningite viral ou bacteriana, mas se desenvolvem de forma mais gradual e podem incluir febre, dor de cabeça persistente, náuseas e alterações no estado mental. O tratamento é feito com antifúngicos e pode ser mais prolongado, dependendo da gravidade da infecção.
Meningite não infecciosa
Embora a meningite seja, na maioria das vezes, causada por agentes infecciosos, também existem causas não infecciosas para a inflamação das meninges. A meningite não infecciosa pode ser provocada por condições como doenças autoimunes (por exemplo, lúpus eritematoso sistêmico), trauma craniano, certos tipos de câncer, medicamentos ou até reações alérgicas.
Os sintomas podem ser semelhantes aos das meningites infecciosas, mas, ao contrário delas, o tratamento envolve o controle da condição subjacente, como o uso de medicamentos imunossupressores ou a retirada de fármacos causadores da inflamação.
Meningite: diagnóstico
O diagnóstico de meningite pode envolver uma série de análises clínicas e laboratoriais, para identificar a causa da inflamação das meninges e orientar o tratamento adequado.
Exame clínico
O diagnóstico inicial da meningite é feito com base nos sintomas clínicos apresentados pelo paciente. A combinação de febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez no pescoço e alterações no estado mental são um sinal de alerta. No entanto, os sintomas iniciais podem ser similares aos de outras condições, o que torna o diagnóstico definitivo mais complexo.
Exame do líquor
A análise do líquor (ou líquido cerebrospinal) é fundamental porque fornece informações cruciais para o diagnóstico e identificação do tipo de meningite – bacteriana, viral, fúngica ou não infecciosa -, além de ajudar a avaliar a gravidade da doença.
Após a coleta do líquor, por meio da punção lombar, a amostra é submetida a uma série de testes para avaliar suas características, como aspecto, composição celular, pressão liquórica, pesquisa direta de agentes infecciosos, culturas, testes moleculares, ensaios imunológicos, níveis de glicose, lactato e proteínas. A análise do líquor permite o diagnóstico da meningite e a definição dos diferentes tipos de meningite, assim como sua etiologia.
Características do líquor em diferentes tipos de meningite
Meningite bacteriana
- Aspecto: Turvo ou leitoso (purulento), devido à presença de grande quantidade de células inflamatórias e bactérias.
- Pressão Liquórica: Normal ou elevada.
- Contagem de células: Elevada quantidade de leucócitos com predomínio de neutrófilos na fase aguda.
- Glicose: níveis diminuídos no líquor em relação ao sangue, devido ao consumo de glicose pelo processo patológico, com elevação dos níveis de lactato.
- Proteínas: Elevadas, devido a disfunção da barreira hemato-liquórica, ocasionada pela inflamação das meninges e distúrbio na circulação do líquor, levando a passagem de proteínas do sangue para o líquor.
- Exame microbiológico: A presença de bactérias pode ser confirmada por crescimento em cultura e/ou pesquisa direta pelos métodos de gram e ziehl (bacilo da tuberculose).
- Exames moleculares: as bactérias podem ser detectadas pela pesquisa direta do DNA do agente infeccioso através da técnica de PCR (de forma isolada ou através de painéis multiplex).
Meningite viral
- Aspecto: Líquor claro, geralmente sem alteração na cor e com turgidez discreta.
- Pressão Liquórica: Normal ou ligeiramente elevada.
- Contagem de células: Aumento mais discreto no número de leucócitos.
- Glicose: Normal ou ligeiramente diminuída no líquor em relação ao sangue.
- Proteínas: normalmente com níveis discretamente aumentados.
- Exame microbiológico: Não se observa a presença de bactérias ou fungos.
- Testes moleculares: os vírus podem ser detectados pela pesquisa do DNA/RNA através da técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), de forma isolada ou através de painéis multiplex.
Meningite fúngica
- Aspecto: claro ou turvo, pela presença maior ou menor de células inflamatórias e/ou leveduras no liquor. .
- Pressão Liquórica: frequentemente elevada na meningite criptocócica.
- Contagem de células: Aumento de leucócitos, predominantemente células mononucleares (linfócitos e monócitos); pode ser normal em indivíduos imunodeprimidos.
- Glicose: frequente com níveis diminuídos em relação ao sangue, com aumento dos níveis de lactato.
- Proteínas: normalmente elevadas
- Exame microbiológico: presença de leveduras (fungos) detectadas no exame direto do líquor ou por crescimento em cultura específica para fungos.
- Testes moleculares: os fungos também podem ser detectados através da técnica de PCR (de forma isolada ou através de painéis multiplex).
Meningite não infecciosa
- Aspecto: Normalmente claro, sem sinais de infecção.
- Pressão Liquórica: Normalmente sem alterações.
- Contagem de células: aumento discreto do número de leucócitos no líquor.
- Glicose: níveis normais em relação ao sangue.
- Proteínas: Normal ou discretamente elevadas.
- Exame microbiológico e Testes moleculares: Não são detectados agentes infecciosos no líquor.
Outros exames
Além da punção lombar para análise do líquor, outros exames podem ser solicitados para complementar o diagnóstico da meningite e definir as estratégias de tratamento, tais como exames de imagem (tomografia ou ressonância magnética) e exames de sangue.
Conheça o Neurolife
O Neurolife é um laboratório, com unidades no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, especializado no diagnóstico de doenças neurológicas, tais como as meningites neoplásicas, meningites infecciosas, doenças autoimunes, hidrocefalias, síndromes de hipertensão intracraniana e doenças neurodegenerativas, através da punção liquórica e análise do líquor.
Clique aqui para entrar em contato e saber mais sobre nossos serviços.