Análise Visual: O Que A Inspeção Visual Do Líquor Pode Indicar?

Análise visual: o que a inspeção visual do líquor pode indicar?

A simples análise visual do líquor, ou líquido cefalorraquidiano (LCR), pode ajudar bastante no diagnóstico de diversas condições neurológicas. Este fluido claro e incolor, que circula no espaço subaracnóideo ao redor do cérebro e da medula espinhal, pode revelar uma variedade de informações importantes sobre a saúde do sistema nervoso central somente pela sua aparência

Por meio de uma simples inspeção visual, logo após a retirada do líquor, já é possível identificar alterações que sugerem a presença de infecções, hemorragias, ou outras patologias.

Este artigo explora como diferentes aspectos visuais do líquor, como sua cor e limpidez, podem servir como indicadores valiosos no contexto clínico, auxiliando médicos na busca de diagnósticos precisos, através de exames complementares no liquor, com o objetivo de planejar estratégias de tratamento específicas e mais eficazes.

Líquor e punção liquórica

O líquor, ou líquido cefalorraquidiano (LCR), é um fluido biológico límpido e incolor que envolve o cérebro e a medula espinhal. Produzido principalmente nos ventrículos cerebrais pelos plexos coróides, o líquor circula pelo espaço subaracnóideo e na profundidade do parênquima cerebral, protegendo o sistema nervoso central de traumas físicos, removendo resíduos metabólicos, e transportando nutrientes essenciais.

O líquor é retirado do organismo por meio de um procedimento conhecido como punção lombar, que pode ser realizado em ambiente ambulatorial por médico especializado.

Durante este procedimento, uma agulha fina é inserida no espaço subaracnóideo da coluna lombar, geralmente entre as vértebras L3-L4 ou L4-L5. Este procedimento é realizado com o paciente em posição fetal ou sentado e curvado para frente, o que ajuda a separar as vértebras lombares e facilita a inserção da agulha.

Indicações para o exame do líquor

As indicações para o exame do líquor, ou líquido cefalorraquidiano, abrangem uma ampla gama de condições clínicas. Entre as principais estão:

  • Infecções do SNC: Diagnóstico de meningites, que podem ser bacterianas, virais ou fúngicas, ajudando a identificar o agente causador e orientar o tratamento adequado.
  • Demências e doenças neurodegenerativas: Avaliação de biomarcadores e outras alterações no líquor que possam indicar doenças como a Doenca de Alzheimer.
  • Doenças inflamatórias e desmielinizantes: Investigação de condições como a esclerose múltipla, onde a análise do líquor pode indicar um processo inflamatório crônico com presença de anticorpos e células inflamatórias.
  • Hidrocefalias: avaliação da pressão do líquor, drenagem terapêutica do líquor e análise de sua composição para diagnosticar a causa e monitorar o tratamento das hidrocefalias, uma condição caracterizada pelo acúmulo excessivo de líquido no cérebro.
  • Hipertensão intracraniana: Avaliação da pressão do líquor para diagnosticar e manejar os casos de hipertensão intracraniana idiopática com drenagem de alívio.
  • Neuropatias inflamatórias: Identificação de processos inflamatórios que podem afetar os nervos periféricos.
  • Infiltrações neoplásicas do SNC: Detecção de células tumorais no líquor, crucial para o diagnóstico de cânceres do sistema nervoso central ou metástases.
  • Doenças cérebro-vasculares: Investigação de eventos vasculares cerebrais, como hemorragias subaracnóideas, através da análise da presença de sangue no líquor e os seus efeitos na composição do líquor.
  • Drenagem do LCR – TAP TEST: Procedimento para avaliar a resposta clínica do paciente à drenagem do líquor, especialmente em casos de hidrocefalia de pressão normal.
  • Quimioterapia intratecal: Administração direta de quimioterápicos no canal do líquor para tratar infiltrações neoplasicas no sistema nervoso central.

Líquor: inspeção visual

A análise inicial do líquor, focada apenas nos aspectos visuais, é um passo importante e pode fornecer indicações preliminares valiosas sobre a condição do paciente. No entanto, essa inspeção visual é apenas uma parte do processo diagnóstico e deve ser complementada por outros testes laboratoriais detalhados para uma avaliação completa.

Aqui estão os pontos-chave sobre a análise visual e a necessidade de testes adicionais:

Cor e limpidez

  • Normal: líquor límpido e incolor (água de rocha), indicando ausência de sangramento e baixa celularidade.
    Turvo: líquor opalescente ou turvo pode indicar infecção com aumento de células inflamatórias (leucócitos) e presença de microrganismos patogênicos ou células malignas.
    Hemorrágico sem xantocromia após centrifugação: possibilidade de presença de hemácias decorrentes da coleta do liquor. Nao sugere hemorragia no sistema nervoso.
    Hemorrágico com xantocromia após centrifugação: coloração amarelada sugere a presença de pigmentos de bilirrubina, indicando possível hemorragia subaracnóidea ou degradação de sangue antigo no líquor.

Limitações da análise visual

Embora a análise visual possa levantar suspeitas sobre certas condições, ela não é suficiente para fornecer um diagnóstico definitivo. Outros testes são sempre necessários para confirmar e especificar o diagnóstico, incluindo:

Contagem de células

  • Leucócitos: Uma contagem elevada pode indicar infecção, inflamação ou neoplasia.
  • Eritrócitos: Presença pode sugerir hemorragia subaracnóidea ou pequeno sangramento no ato da coleta (situação relativamente comum).

Níveis de proteínas

  • Elevados: Indicativos de infecções, inflamações, neoplasias ou doenças obstrutivas da circulação liquórica.

Glicose

  • Reduzida (consumo de glicose): Pode sugerir processo inflamatório infeccioso (bactérias, fungos e micobactérias) ou neoplásico (infiltração de células tumorais no espaço do líquor).

Lactato

  • Elevado: Pode indicar processos infecciosos ou neoplásicos, hipóxia cerebral, ou doenças mitocondriais. Nas infecções virais, o lactato normalmente está dentro dos limites da normalidade ou levemente aumentado.

Cultura e microscopia (citologia diferencial)

  • Bacteriologia: Identificação de bactérias através de exames diretos e culturas.
  • Virologia e Micologia: Testes específicos para vírus e fungos.
  • Citologia: Exame de células para detectar neoplasias ou células inflamatórias específicas.

Pressão de abertura (manometria): realizada no ato da punção lombar a beira do leito.

  • Elevada: Pode sugerir hipertensão intracraniana.
  • Baixa: Pode ser vista em casos de perda de líquor (fístulas) em pacientes pós traumatismo cranioencefálico ou pós operatório de neurocirurgia.

Testes imunológicos e moleculares

  • Bandas Oligoclonais: Indicativo de processo inflamatório crônico (infeccioso ou autoimune)
  • Antígenos e Anticorpos: Confirmação de infecções como sífilis e diferentes agentes virais, bacterianos e fúngicos.
  • PCR: painéis multiplex para detecção de agentes infecciosos através da pesquisa do DNA/RNA do patógeno.

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