Outubro Rosa: Particularidades Do Sistema Nervoso Na Mulher

Outubro Rosa: particularidades do sistema nervoso na mulher

Durante boa parte do século 20, o cérebro foi tratado pela ciência como uma estrutura “neutra”, sem distinção entre homens e mulheres. Os estudos em neurologia e psiquiatria, na maioria das vezes, eram feitos com participantes masculinos, e seus resultados eram simplesmente generalizados. Com isso, por décadas, as particularidades do sistema nervoso feminino ficaram invisíveis.

Hoje, essa realidade mudou. Graças aos avanços da neuroimagem, da neuroendocrinologia e da genética, sabemos que o cérebro das mulheres tem características anatômicas, funcionais e hormonais próprias, que influenciam desde o humor e o comportamento até a predisposição a certas doenças. Entender essas diferenças não é uma questão de gênero, mas de precisão científica e qualidade de cuidado em saúde.

O Outubro Rosa nos lembra da importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, mas também convida a um olhar mais amplo sobre a saúde integral da mulher. Nesse contexto, conhecer as particularidades do sistema nervoso feminino é parte do mesmo compromisso: compreender o corpo da mulher em todas as suas dimensões — físicas, hormonais e emocionais. Cuidar da mente e do cérebro também é uma forma de promover prevenção, autocuidado e bem-estar, pilares centrais da campanha.

Diferenças anatômicas e funcionais

O tamanho médio do cérebro masculino é ligeiramente maior, mas isso não tem relação direta com inteligência ou desempenho cognitivo. O que realmente importa é como as regiões se conectam e se comunicam. Pesquisas de neuroimagem apontam que:

  • As mulheres tendem a ter maior conectividade entre os hemisférios cerebrais, o que favorece a integração entre raciocínio lógico e processamento emocional.
  • Os homens, em média, apresentam maior conectividade dentro de cada hemisfério, especialmente em áreas motoras e de percepção espacial.
  • Regiões como o hipocampo (associado à memória) e o córtex pré-frontal (ligado à tomada de decisões) podem ter volumes relativos ligeiramente diferentes entre os sexos.

Essas diferenças não determinam capacidades individuais, mas ajudam a compreender padrões populacionais de comportamento, resposta ao estresse e vulnerabilidade a doenças neurológicas.

A influência dos hormônios sexuais

Poucos fatores afetam tanto o sistema nervoso feminino quanto os hormônios. O estrogênio e a progesterona, além de regularem o ciclo reprodutivo, atuam diretamente sobre neurônios e sinapses.

Eles influenciam a plasticidade cerebral (capacidade do cérebro de se adaptar e formar novas conexões); a liberação de neurotransmissores como serotonina e dopamina; o metabolismo energético cerebral e o fluxo sanguíneo em áreas relacionadas à cognição e emoção.

Essas oscilações hormonais ocorrem de forma cíclica ao longo do mês e impactam a memória, sono, atenção e percepção de dor. É comum, por exemplo, que mulheres percebam variações no humor ou na clareza mental conforme as fases do ciclo menstrual.

Com a menopausa, a queda do estrogênio altera a conectividade entre regiões cerebrais e pode contribuir para sintomas como lapsos de memória, irritabilidade e distúrbios do sono. Entender esse mecanismo tem ajudado a desenvolver estratégias terapêuticas mais personalizadas para essa fase da vida.

Doenças neurológicas e psiquiátricas mais frequentes em mulheres

Compreender o sistema nervoso feminino é também entender por que algumas doenças neurológicas e mentais afetam mais as mulheres.

Principais condições com maior prevalência:

  • Enxaqueca: afeta três vezes mais mulheres do que homens. Os picos de crise estão frequentemente associados a variações hormonais, especialmente na queda do estrogênio.
  • Depressão e ansiedade: as mulheres têm cerca do dobro de chance de desenvolver esses transtornos. Os hormônios sexuais influenciam os sistemas serotoninérgico e dopaminérgico, modulando o humor.
  • Esclerose múltipla: ocorre de duas a três vezes mais em mulheres. Pesquisas sugerem que os hormônios femininos e a resposta imune desempenham papel importante.
  • Doença de Alzheimer: há maior risco após a menopausa, e o estrogênio parece exercer efeito protetor sobre o hipocampo e o córtex pré-frontal.

Essas descobertas reforçam a necessidade de protocolos clínicos que considerem o sexo biológico e o estado hormonal como variáveis centrais, algo que a medicina apenas recentemente começou a adotar de forma sistemática.

Gravidez, puerpério e o cérebro em transformação

A gestação é um dos períodos mais fascinantes da neuroplasticidade feminina. Estudos de ressonância magnética mostram que, durante a gravidez, o cérebro da mulher passa por remodelações estruturais significativas, especialmente em áreas ligadas à empatia, percepção emocional e comportamento protetivo.

Essas mudanças têm objetivos funcionais, como aumentar a sensibilidade emocional e a capacidade de interpretar as necessidades do bebê; favorecer o vínculo afetivo entre mãe e filho e ajustar a resposta ao estresse e à dor.

No pós-parto, algumas dessas alterações persistem por meses, e embora muitas mulheres relatem maior sensibilidade ou oscilação emocional nesse período, trata-se de um processo adaptativo. A plasticidade cerebral feminina se mostra, assim, um instrumento de sobrevivência e cuidado.

Neurociência e gênero: corrigindo o passado

Há até pouco tempo, a variável “sexo biológico” era negligenciada nas pesquisas científicas. A maioria dos ensaios clínicos usava homens como padrão, sob o argumento de que as flutuações hormonais femininas poderiam “dificultar” a análise dos dados.

O resultado foi uma ciência que, por décadas, tratou o corpo masculino como referência universal, o que gerou lacunas graves, como diagnósticos tardios em mulheres; reações diferentes a medicamentos não estudadas adequadamente e invisibilidade de sintomas específicos do sexo feminino.

A partir dos anos 2000, surgiu o campo da neurociência de gênero, que busca não só comparar cérebros masculinos e femininos, mas entender como fatores biológicos e sociais interagem para moldar a mente e o comportamento. Essa perspectiva tem levado a avanços concretos em políticas de saúde, farmacologia e educação médica.

Reconhecer as particularidades do sistema nervoso feminino não é uma tentativa de dividir a ciência entre “cérebro de homem” e “cérebro de mulher”. Pelo contrário: é uma forma de construir uma ciência mais completa, inclusiva e precisa.

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