Neurolife explica: O que é a Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ)?
A Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é uma condição neurodegenerativa rara e fatal que afeta o cérebro humano, provocando uma rápida deterioração das funções cognitivas e motoras.
Pertencente a um grupo de doenças conhecidas como encefalopatias espongiformes, a DCJ é causada por proteínas anormais chamadas príons, que se acumulam no tecido cerebral e levam à destruição dos neurônios. Essa condição pode se manifestar de forma esporádica, hereditária ou ser adquirida, e, apesar de ser extremamente rara, sua progressão é rápida e devastadora.
Entender as causas, os sintomas e as formas de diagnóstico dessa doença é essencial para buscar estratégias de tratamento e manejo que possam oferecer conforto e um pouco mais de qualidade de vida aos pacientes e suas famílias.
Doença de Creutzfeldt-Jakob: causas
A Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é causada pela presença de proteínas anormais chamadas príons. Diferente de vírus ou bactérias, os príons são proteínas mal formadas que podem induzir outras proteínas naturais do organismo a adotar uma conformação anormal. Essa transformação desencadeia uma cadeia de eventos que resulta em danos cerebrais graves. A DCJ pode ocorrer de três formas principais, cada uma com causas distintas:
- Esporádica: A forma mais comum da DCJ, representando cerca de 85% a 90% dos casos. Na DCJ esporádica, a causa exata não é conhecida. Acredita-se que os príons anormais se desenvolvem espontaneamente no cérebro, sem uma causa externa ou mutação genética específica.
- Genética (ou hereditária): Cerca de 10% a 15% dos casos de DCJ são hereditários. Nessa forma, a doença é causada por uma mutação em um gene específico que codifica a proteína príon (PRNP). A mutação pode ser transmitida de geração em geração, de forma autossômica dominante, o que significa que basta herdar uma cópia do gene alterado de um dos pais para ter risco de desenvolver a doença.
- Adquirida (ou transmissível): A DCJ adquirida é extremamente rara e ocorre quando uma pessoa é exposta a príons infecciosos de uma fonte externa. Isso pode acontecer por meio de procedimentos médicos, como transplantes de córnea, utilização de instrumentos neurocirúrgicos contaminados ou transfusões de sangue, embora as práticas modernas tenham minimizado muito esses riscos. Além disso, a variante conhecida como DCJv está relacionada ao consumo de carne contaminada com príons da doença da vaca louca (encefalopatia espongiforme bovina).
Doença de Creutzfeldt-Jakob: sintomas
A DCJ é relativamente rara e afeta principalmente pessoas em uma faixa etária mais avançada, geralmente entre os 55 e 75 anos, com a média de idade dos pacientes em torno de 60 anos. Em relação à incidência por gênero, a doença parece afetar homens e mulheres de forma quase igual, sem uma predisposição significativa para um sexo específico. Contudo, estudos sugerem que, em alguns tipos de DCJ, como a forma esporádica, a incidência pode ser ligeiramente maior em homens.
Os sintomas da DCJ se desenvolvem de maneira rápida e progressiva, geralmente levando a uma deterioração significativa das capacidades cognitivas e motoras em um curto período. Os sinais e sintomas variam conforme a fase da doença, mas costumam incluir:
Sintomas cognitivos
- Demência rápida: A perda de memória, desorientação e confusão mental aparecem rapidamente, diferentemente de outras formas de demência que se desenvolvem ao longo de anos.
- Alterações de personalidade: Mudanças de comportamento, irritabilidade, depressão e falta de motivação são comuns.
Dificuldade de concentração: Problemas para pensar claramente e para realizar tarefas complexas.
Sintomas neurológicos
- Movimentos involuntários (mioclonias): Espasmos musculares súbitos e incontroláveis são um sintoma típico, que pode se agravar com a progressão da doença.
- Coordenação prejudicada (ataxia): A falta de controle sobre os movimentos e a dificuldade de andar são sinais neurológicos que se tornam cada vez mais evidentes.
- Alterações visuais: Visão turva, dupla ou perda de visão em estágios mais avançados são possíveis.
Sintomas físicos e motores
- Fraqueza muscular: Ocorre uma perda progressiva de força e coordenação, levando a dificuldades motoras significativas.
- Dificuldade para falar e engolir: A fala pode se tornar lenta e arrastada, e a deglutição pode ser dolorosa ou difícil, aumentando o risco de aspiração.
A progressão da DCJ é rápida. Infelizmente, a doença é invariavelmente fatal, com muitos casos levando à morte dentro de alguns meses a um ano após o diagnóstico, geralmente devido a complicações como infecções secundárias ou falência de órgãos.
Os sintomas variam dependendo do tipo de DCJ (esporádica, hereditária ou adquirida), mas a rápida deterioração cognitiva e neurológica é uma característica comum a todas as formas da doença.
Doença de Creutzfeldt-Jakob: diagnóstico
O diagnóstico da DCJ é complexo e envolve a exclusão de outras doenças neurológicas, pois não existe um teste único e definitivo para confirmar a condição durante a vida do paciente. Os médicos geralmente utilizam uma combinação de avaliação clínica, exames neurológicos, testes de imagem e análises laboratoriais para identificar sinais indicativos da doença. O objetivo é detectar padrões específicos que apontem para a presença de príons anormais e a rápida progressão dos sintomas.
Avaliação clínica e histórico médico
O diagnóstico começa com uma avaliação cuidadosa dos sintomas e do histórico médico do paciente, incluindo a rapidez com que os sintomas se desenvolveram. A demência de rápida progressão, movimentos involuntários (mioclonias), ataxia e alterações comportamentais são sinais que ajudam a direcionar a suspeita para a DCJ.
Eletroencefalograma (EEG)
O EEG é usado para medir a atividade elétrica do cérebro e pode revelar padrões característicos associados à DCJ, como descargas periódicas. Esses achados são comuns na forma esporádica da doença, embora possam não estar presentes em todos os casos.
Ressonância magnética (MRI)
A ressonância magnética do cérebro é uma ferramenta valiosa no diagnóstico da DCJ, pois pode identificar alterações específicas, como lesões em áreas do cérebro conhecidas como núcleos da base e córtex cerebral. A técnica chamada FLAIR (Fluid-Attenuated Inversion Recovery) e as sequências DWI (Diffusion-Weighted Imaging) são particularmente úteis para visualizar essas mudanças.
Testes genéticos
Na suspeita de DCJ hereditária, podem ser realizados testes genéticos para detectar mutações no gene PRNP, que codifica a proteína príon. A identificação de mutações nesse gene confirma a forma hereditária da doença.
Doença de Creutzfeldt-Jakob e a análise do líquor
O exame do líquor (líquido cefalorraquidiano) é uma ferramenta importante no diagnóstico da Doença de Creutzfeldt-Jakob. Na DCJ, a análise do líquor pode fornecer informações valiosas que ajudam a fortalecer a suspeita clínica da doença com a pesquisa da proteína priônica e outros biomarcadores de neurodegeneração através do teste RT-QuIC. Os principais biomarcadores de neurodegeneração avaliados no líquor incluem:
- Proteína 14-3-3: a presença da proteína 14-3-3 no líquor é um dos principais indicadores utilizados no diagnóstico da DCJ. Esta proteína é liberada quando há dano ou morte das células cerebrais. Embora a 14-3-3 também possa estar presente em outras condições neurológicas, como encefalites e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), sua detecção é considerada um marcador importante quando os sintomas são compatíveis com a DCJ.
- Proteína tau total: Níveis elevados de proteína tau total no líquor são comuns em pacientes com DCJ. A proteína tau é associada a danos neuronais e também é encontrada em outras doenças neurodegenerativas, como Alzheimer. No entanto, na DCJ, os níveis de tau tendem a ser significativamente mais altos e aumentam rapidamente, refletindo a progressão acelerada da doença.
- Neurofilamentos de cadeia leve (NfL): Outro biomarcador importante é a presença de níveis elevados de neurofilamentos de cadeia leve (NfL) no líquor. Esse marcador está associado à destruição das células nervosas e é frequentemente encontrado em doenças neurodegenerativas rápidas, como a DCJ.
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O Neurolife é um laboratório, com unidades no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, especializado no diagnóstico de doenças neurológicas, tais como as meningites neoplásicas, meningites infecciosas, doenças autoimunes, hidrocefalias, síndromes de hipertensão intracraniana e doenças neurodegenerativas, através da punção liquórica e análise do líquor.
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