Como O Exame Do Líquor Pode Ajudar No Diagnóstico Da Neurossífilis

Como o exame do líquor pode ajudar no diagnóstico da neurossífilis

A neurossífilis é uma complicação grave da sífilis, que ocorre quando a bactéria Treponema pallidum atinge o sistema nervoso central, podendo causar manifestações neurológicas diversas, como demência, alterações motoras e distúrbios psiquiátricos.

O diagnóstico precoce é essencial para evitar danos irreversíveis, e o exame do líquor (líquido cefalorraquidiano) desempenha um papel fundamental nesse processo. Por meio da análise do líquor, é possível detectar sinais de inflamação, avaliar a presença da bactéria e identificar marcadores imunológicos específicos da infecção, auxiliando na confirmação do diagnóstico e na definição do tratamento adequado.

Neste artigo, exploramos como o exame do líquor pode contribuir para a identificação da neurossífilis e quais são os principais testes utilizados nessa investigação.

Contexto histórico

Historicamente, as ISTs sempre foram uma preocupação significativa para a saúde pública, mas a epidemia de HIV/AIDS nas décadas de 1980 e 1990 trouxe uma atenção especial para a prevenção dessas infecções. O medo do HIV levou a um aumento do uso de preservativos e de campanhas de conscientização, reduzindo a disseminação de outras ISTs, como a sífilis.

No entanto, com o avanço dos tratamentos antirretrovirais e a percepção de que a AIDS se tornou uma doença controlável, essa preocupação diminuiu entre as novas gerações. Como consequência, o uso de preservativos caiu, e os casos de sífilis voltaram a crescer significativamente em diversos países, inclusive no Brasil.

Esse aumento da sífilis tem gerado um impacto preocupante, especialmente porque a infecção pode passar despercebida em seus estágios iniciais. Se não tratada, a bactéria pode permanecer no organismo por anos e, em alguns casos, evoluir para a neurossífilis. Embora essa manifestação seja mais comum em pessoas com imunossupressão (como portadores do HIV), ela também pode ocorrer em indivíduos sem outras condições de saúde prévias.

Manifestações clínicas da neurossífilis

A neurossífilis ocorre quando a bactéria Treponema pallidum invade o sistema nervoso central (SNC), podendo se manifestar em diferentes fases da infecção. Embora possa surgir em qualquer estágio da sífilis, é mais comum nos casos não tratados ou tratados inadequadamente. Suas manifestações variam desde quadros assintomáticos até formas graves que comprometem funções motoras, cognitivas e psiquiátricas.

Os principais tipos de neurossífilis incluem:

Neurossífilis assintomática

É a forma mais frequente e, como o nome sugere, não apresenta sintomas aparentes. No entanto, alterações podem ser detectadas no exame do líquor, como aumento de células inflamatórias e proteínas. Essa fase pode durar anos e, sem tratamento, pode evoluir para formas mais graves da doença.

Neurossífilis meningovascular

Caracteriza-se pela inflamação das meninges e dos vasos sanguíneos cerebrais, podendo levar a episódios de AVC (acidente vascular cerebral). Pacientes podem apresentar sintomas como:

  • Dor de cabeça intensa e persistente.
  • Rigidez na nuca.
  • Déficits neurológicos, como fraqueza ou paralisia em um lado do corpo.
  • Alterações na fala e na coordenação motora.

Essa forma da doença pode ocorrer alguns anos após a infecção inicial e, se não tratada, pode causar danos permanentes ao cérebro.

Neurossífilis parética (paralisia geral progressiva)

É uma manifestação tardia da doença, geralmente ocorrendo décadas após a infecção primária. Nesse estágio, há uma destruição progressiva dos neurônios, resultando em sintomas como:

  • Alterações de comportamento, incluindo mudanças de personalidade e agressividade.
  • Dificuldade de concentração e perda de memória, podendo evoluir para um quadro de demência.
  • Fraqueza muscular e dificuldades na fala.
  • Crises convulsivas.

Antes do desenvolvimento dos antibióticos, essa forma de neurossífilis era uma das principais causas de internação psiquiátrica. Atualmente, apesar de rara, ainda pode ser encontrada em pacientes que não receberam tratamento adequado.

Neurossífilis tabética (tabes dorsal)

Ocorre quando a infecção destrói a medula espinhal, afetando principalmente os nervos responsáveis pela sensibilidade e pelo equilíbrio. Os sintomas incluem:

  • Dor intensa e episódica nos membros.
  • Perda da coordenação motora (ataxia), causando dificuldades para caminhar.
  • Alterações nos reflexos e na percepção de dor e temperatura.
  • Disfunção urinária e intestinal.

Essa forma da neurossífilis pode levar à incapacitação grave e permanente se não for tratada precocemente.

O papel do exame do líquor no diagnóstico da neurossífilis e os principais testes laboratoriais

O diagnóstico da neurossífilis é desafiador porque seus sintomas podem ser inespecíficos e se manifestar de maneiras variadas. Em muitos casos, a suspeita clínica surge a partir de sintomas neurológicos, psiquiátricos ou após a detecção da sífilis em exames de sangue. No entanto, para confirmar o acometimento do sistema nervoso central, o exame do líquor (líquido cefalorraquidiano) é essencial.

Os principais testes realizados no líquor para o diagnóstico da neurossífilis incluem:

Citometria e bioquímica

Análises básicas do líquor avaliam sinais inflamatórios, comuns em infecções do sistema nervoso central. Na neurossífilis, os achados incluem:

  • Aumento do número de leucócitos (pleocitose), indicando inflamação ativa.
  • Elevação das proteínas, reflexo da quebra da barreira hematoencefálica.

Essas alterações, embora inespecíficas, reforçam a suspeita clínica e justificam a realização de testes mais específicos.

Testes treponêmicos e não treponêmicos

Os testes sorológicos para sífilis são divididos em duas categorias:

  • Testes não treponêmicos: detectam anticorpos produzidos contra os danos causados pela bactéria. O mais utilizado no líquor é o VDRL (Venereal Disease Research Laboratory), que, quando positivo, confirma a neurossífilis. No entanto, pode apresentar resultados negativos em alguns casos, especialmente nas fases tardias da doença.
  • Testes treponêmicos: detectam anticorpos diretamente contra a bactéria Treponema pallidum. Os principais são FTA-ABS (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption) e TPPA (Treponema Pallidum Particle Agglutination Test). Embora sejam mais sensíveis, sua presença no líquor não vi necessariamente indica infecção ativa, podendo refletir uma infecção passada.

PCR para Treponema pallidum

A Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) permite detectar o DNA da bactéria no líquor, sendo útil principalmente em casos atípicos ou de difícil diagnóstico. No entanto, sua sensibilidade pode variar, e um resultado negativo não exclui completamente a doença.

Quando solicitar o exame do líquor?

A punção lombar para análise do líquor é recomendada nos seguintes casos:

  • Pacientes com sífilis e sintomas neurológicos ou psiquiátricos.
  • Pessoas com HIV e sífilis, devido ao maior risco de neurossífilis.
  • Casos de sífilis tardia sem tratamento documentado.
  • Falha terapêutica ou suspeita de reinfecção com sintomas neurológicos.

Dado o potencial da neurossífilis para causar danos irreversíveis, a realização do exame do líquor é um passo crucial para um diagnóstico preciso e para garantir o início do tratamento adequado o mais rápido possível.

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