
Chico Buarque e Billy Joel: o que é a hidrocefalia de pressão normal?
Dois ícones da música – um brasileiro, outro norte-americano – recentemente trouxeram à tona uma condição neurológica pouco conhecida, mas importante: a hidrocefalia de pressão normal (HPN). Tanto Chico Buarque quanto Billy Joel foram diagnosticados com essa doença e passaram por cirurgia para aliviar seus sintomas.
Embora o nome soe técnico, a HPN é uma condição que pode afetar a qualidade de vida de forma significativa, especialmente em pessoas idosas, e que muitas vezes é confundida com outras doenças, como Alzheimer ou Parkinson.
Neste texto, explicamos o que é a hidrocefalia de pressão normal, como ela se manifesta e por que o diagnóstico precoce faz toda a diferença — inclusive para grandes nomes da música mundial.
O que aconteceu?
Recentemente, dois grandes nomes da música mundial foram diagnosticados com a HPN, uma condição neurológica que pode passar despercebida por seus sintomas silenciosos e muitas vezes confundidos com outras doenças. Chico Buarque, um dos maiores compositores e cantores brasileiros, descobriu a doença durante um check-up de rotina e foi submetido a uma cirurgia para tratar a condição. A intervenção foi um sucesso, e ele tem apresentado boa recuperação.
Billy Joel, renomado cantor e pianista americano, também enfrentou a HPN, o que o levou a cancelar a sua turnê em 2025 para passar por cirurgia e iniciar o processo de recuperação. A decisão de interromper os shows foi tomada para garantir que o tratamento fosse realizado com a devida atenção, e o músico permanece otimista quanto à sua volta aos palcos.
O que é a hidrocefalia de pressão normal (HPN)?
A hidrocefalia de pressão normal é uma condição neurológica caracterizada pelo acúmulo anormal de líquido cefalorraquidiano (LCR) nos ventrículos cerebrais – as cavidades internas do cérebro responsáveis por produzir e armazenar esse líquido. Ao contrário da hidrocefalia clássica, onde há um aumento significativo da pressão dentro do crânio, na HPN essa pressão costuma estar dentro dos níveis normais, o que torna o diagnóstico mais desafiador.
Essa doença ocorre principalmente em pessoas acima dos 60 anos, e está relacionada a um desequilíbrio na produção, circulação ou absorção do líquido cefalorraquidiano. O resultado desse acúmulo é a dilatação dos ventrículos, que pode interferir no funcionamento normal do cérebro e causar sintomas que afetam a mobilidade, o controle urinário e as funções cognitivas.
A HPN é frequentemente confundida com outras doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, devido à semelhança dos sintomas. Porém, diferentemente dessas condições, a hidrocefalia de pressão normal é tratável e, se diagnosticada precocemente, pode apresentar melhora significativa dos sintomas, muitas vezes com recuperação quase completa da qualidade de vida.
Sintomas e diagnóstico da HPN
A hidrocefalia de pressão normal apresenta uma tríade de sintomas clássicos, que ajudam os médicos a suspeitar da doença, mas que muitas vezes são confundidos com sinais de outras condições neurológicas comuns na terceira idade e costumam deixar pacientes e seus familiares bastante preocupados.
- Distúrbio da marcha: dificuldade para caminhar, sensação de instabilidade, passos lentos e arrastados.
- Incontinência urinária: perda do controle da bexiga, que pode começar como urgência urinária e evoluir para episódios de escape involuntário.
- Alterações cognitivas: perda de memória, dificuldade de concentração, lentidão para pensar, que podem se assemelhar a quadros de demência.
Esses sintomas, isoladamente ou combinados, levam muitas vezes a um diagnóstico inicial equivocado, como Alzheimer ou Parkinson. Porém, a HPN pode ser tratada, e por isso é importante que seja identificada corretamente.
Diagnóstico
Para confirmar a presença da hidrocefalia de pressão normal, os médicos podem utilizar uma combinação de exames de imagem, análise clínica e testes específicos para avaliar a resposta ao tratamento. O exame padrão-ouro para o diagnóstico da HPN, no entanto, é o tap test.
Ele consiste na retirada de uma quantidade de líquido cefalorraquidiano da coluna vertebral para aliviar temporariamente a compressão das vias neurológicas dentro do crânio. Após o procedimento, o paciente é observado para verificar a melhora dos sintomas, especialmente da marcha e cognição.
O Tap Test é fundamental porque ajuda a prever se o paciente responderá bem ao tratamento cirúrgico, sendo um critério importante para indicar a cirurgia.
Tratamento da HPN
O tratamento da hidrocefalia de pressão normal é, na maioria dos casos, cirúrgico, com o objetivo principal de aliviar o acúmulo excessivo de líquido cefalorraquidiano nos ventrículos cerebrais e, assim, reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Derivação ventrículo-peritoneal (DVP)
- A cirurgia mais comum para tratar a HPN é a derivação ventrículo-peritoneal. Trata-se da implantação de um sistema de tubos finos (cateteres) que drena o excesso de líquido do ventrículo cerebral para a cavidade peritoneal, no abdômen, onde o líquido é naturalmente absorvido pelo organismo.
- Como funciona: Um dispositivo com uma válvula reguladora controla a quantidade de líquido drenado, prevenindo a remoção excessiva e possíveis complicações.
Benefícios do tratamento cirúrgico
- A intervenção geralmente resulta em melhora significativa da marcha, redução da incontinência urinária e estabilização ou melhora da função cognitiva.
- Pacientes diagnosticados e tratados precocemente têm grandes chances de reverter os sintomas, podendo retomar suas atividades diárias e, em alguns casos, recuperar a autonomia.
Riscos e cuidados pós-operatórios
- Como em qualquer cirurgia, existem riscos, como infecção, deslocamento do cateter ou obstrução do sistema de drenagem, que demandam acompanhamento médico.
- Após a cirurgia, é fundamental o acompanhamento regular para ajustar o funcionamento da válvula e monitorar a saúde neurológica do paciente.
No caso de Chico Buarque e Billy Joel, a cirurgia permitiu o controle dos sintomas e abriu caminho para a recuperação, mostrando como o tratamento adequado pode transformar a vida de pessoas com HPN, inclusive de grandes artistas.
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