O Que é O Critério McDonald No Diagnóstico Da Esclerose Múltipla?

O que é o Critério McDonald no diagnóstico da esclerose múltipla?

Já falamos aqui em algumas oportunidades sobre como o diagnóstico da esclerose múltipla (EM) pode se tornar um grande desafio, especialmente nos estágios iniciais da doença, quando os sintomas são inespecíficos e podem variar muito de pessoa para pessoa.

Para trazer mais precisão e agilidade nesse processo, especialistas desenvolveram critérios clínicos e radiológicos que auxiliam médicos na identificação da enfermidade. Entre eles, o mais utilizado atualmente é o Critério de McDonald, que passou por várias revisões desde sua criação em 2001.

Neste texto, você vai entender o que é esse critério, como ele funciona e qual o seu papel no diagnóstico da esclerose múltipla e o que mudou em sua última atualização, em 2024.

Esclerose múltipla, um rápido contexto

A esclerose múltipla é uma doença neurológica crônica e autoimune que afeta o sistema nervoso central, provocando inflamações e danos à mielina, camada protetora dos neurônios. Seus sintomas são variados e imprevisíveis, podendo incluir visão turva, formigamentos, fraqueza muscular, desequilíbrio e alterações cognitivas

Como esses sinais também aparecem em outras condições, o diagnóstico precoce pode ser desafiador. Por isso, critérios clínicos e laboratoriais bem definidos, como o Critério de McDonald, são essenciais para identificar a EM com mais precisão e iniciar o tratamento o quanto antes.

O que é o Critério de McDonald?

O Critério de McDonald é um conjunto de diretrizes diagnósticas criado em 2001 por um grupo internacional de especialistas para tornar o diagnóstico da esclerose múltipla mais rápido e seguro. Antes disso, o diagnóstico dependia quase exclusivamente da observação clínica ao longo do tempo, o que poderia atrasar o início do tratamento.

Esse critério combina dados clínicos (como surtos e sintomas neurológicos) com exames de imagem, especialmente a ressonância magnética, além de outros exames laboratoriais, como a análise do líquor.

Seu objetivo principal é demonstrar dois pontos fundamentais para o diagnóstico da EM: disseminação no tempo (DIT), ou seja, que os sintomas ocorreram em momentos diferentes; e disseminação no espaço (DIS), que indica que as lesões atingem diferentes áreas do sistema nervoso central.

Desde sua criação, o Critério McDonald passou por atualizações – a mais recente em 2017, que atualmente está em vigor – para incorporar avanços tecnológicos e tornar o diagnóstico ainda mais sensível e específico, mesmo nos primeiros estágios da doença.

Atualização de 2024

Há um novo processo de revisão em andamento para incorporar avanços recentes em imagem e outros biomarcadores, com mudanças propostas em 2024. As propostas incluem:

  • Incluir o nervo óptico como um quinto local topográfico para a DIS, permitindo a inclusão de lesões neste nervo no diagnóstico;
  • A possibilidade de usar as cadeias leves livres kappa (kFLC) do LCR e do sangue como biomarcadores diagnósticos, equivalentes às bandas oligoclonais;
  • A adição do sinal da veia central (SVC) e lesões de borda paramagnética como marcadores específicos de neuroimagem;
  • A possibilidade de diagnosticar EM em pacientes com síndrome radiologicamente isolada (RIS) que preencham os critérios de DIS, mesmo na ausência de sinais/sintomas clínicos, desde que preencham os critérios de DIT ou tenham biomarcadores do LCR presentes.

As mudanças propostas visam agilizar o diagnóstico de EM em pacientes com características clínicas e laboratoriais típicas, sem comprometer a especificidade do diagnóstico.

Conceitos-chave do critério

O Critério McDonald baseia-se principalmente em dois conceitos: disseminação no espaço (DIS) e disseminação no tempo (DIT). Esses termos descrevem como a esclerose múltipla se manifesta no sistema nervoso central — em locais diferentes e em momentos distintos.

Disseminação no espaço significa que as lesões características da EM estão espalhadas por diferentes regiões do cérebro e da medula espinhal. As áreas mais comprometidas incluem o corpo caloso, nervos ópticos, tronco encefálico, cerebelo e medula. Essa disseminação pode ser identificada por meio da ressonância magnética, que mostra lesões ativas ou antigas em locais distintos.

Disseminação no tempo, por sua vez, indica que houve atividade da doença em mais de um momento. Isso pode ser comprovado clinicamente (por exemplo, um novo surto) ou por imagens de ressonância que mostrem lesões com características de diferentes idades — como a presença simultânea de lesões com e sem realce por contraste.

Esses dois critérios juntos – tempo e espaço – permitem que o diagnóstico seja feito mesmo com poucos sintomas, desde que os exames complementares corroborem a suspeita clínica.

Vantagens do Critério McDonald

A principal vantagem do Critério de McDonald é permitir um diagnóstico mais rápido e preciso da esclerose múltipla, mesmo após o primeiro surto clínico. Antes dele, muitos pacientes precisavam apresentar múltiplos episódios ao longo dos anos para que a doença fosse confirmada. Com a combinação de sintomas clínicos e exames laboraroriais, é possível iniciar o tratamento precocemente – o que faz diferença no controle da progressão da doença e na preservação da qualidade de vida.

Outro ponto positivo é a padronização: o critério oferece uma linguagem comum entre profissionais de diferentes regiões e países, facilitando a troca de informações, a condução de pesquisas e a definição de condutas clínicas.

A cada atualização, o critério se torna mais sensível, especialmente para formas iniciais da EM, como a síndrome clínica isolada (CIS). A introdução do uso do líquor (bandas oligoclonais IgG positivas) como marcador de disseminação no tempo, por exemplo, foi um grande avanço na versão de 2017, permitindo confirmar a doença nos casos em que a neuroimagem ainda não tenha demonstrado a disseminação das lesões no tempo.

Papel dos exames complementares

Outros exames complementares são importantes para reforçar o diagnóstico da esclerose múltipla e excluir outras condições que podem apresentar sintomas semelhantes. Afastar outras possibilidades diagnósticas é fundamental para a segurança do diagnóstico da EM.

A ressonância magnética (RM) é o principal exame de imagem utilizado. Ela permite visualizar as lesões desmielinizantes no cérebro e na medula espinhal, identificando se há disseminação no espaço e no tempo. Com o uso de contraste (gadolínio), é possível distinguir entre lesões recentes e antigas — o que contribui para confirmar a atividade da doença.

Outro exame de grande utilidade é a análise do líquor, ou líquido cefalorraquidiano, que circula ao redor do cérebro e da medula. A presença de bandas oligoclonais de IgG no líquor, ausentes no sangue, é um achado comum em pacientes com EM e pode ser usada como critério para indicar disseminação no tempo, especialmente em casos de apresentação clínica inicial.

Além disso, exames de sangue são realizados para descartar outras doenças inflamatórias, infecciosas ou autoimunes que podem causar sintomas semelhantes, como lúpus, neurossífilis, HIV, doença de Lyme, entre outras.

Esses exames não substituem a análise clínica, mas são fundamentais para dar mais segurança ao diagnóstico e orientar o tratamento adequado.

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